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Água que move comunidades: o círculo de bananeiras e a virada sustentável no Pantanal

  • 26 nov 2025
  • Categorias:Geral
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Sob o sol forte da tarde pantaneira, quando o calor costuma impor seu próprio ritmo às atividades rurais, agricultores familiares de Corumbá se reuniram para aprender a transformar um problema cotidiano em solução sustentável. O clima quente não foi capaz de afastar quem chegou ao Assentamento Taquaral disposto a entender e aprender novos caminhos para lidar com a água da propriedade.

Ao lado de ferramentas, tubos e mudas de bananeira, a engenheira sanitarista e permacultora Adriana Galbiati mostrou, na prática, como o círculo de bananeiras pode tratar e reaproveitar águas cinza. “É uma tecnologia de baixo custo e um núcleo de fertilidade”, explicou. Ali, o objetivo não era apenas ensinar uma técnica, mas oferecer autonomia e entendimento sobre o fluxo da água na vida rural.

Naquela tarde, cerca de 30 pessoas escutaram, perguntaram, observaram e, o mais importante, participaram. A proposta da equipe da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) e da coordenação do projeto era clara: nada de ficar parado vendo apresentação. A prática seria o centro da atividade, com todos cavando, conectando encanamentos e plantando o sistema que passaria a atender a água proveniente da lavagem de utensílios da agroindústria de derivados leite instalada no lote.

O casal dono da propriedade, Maria Romilda Alves e José Dilse de Jesus Vieira, caminhava entre o grupo com expressão atenta. “Nós jogávamos a água fora. Agora já sabemos aproveitá-la”, contou seu Zé Dilse. “Antes era a céu aberto, estragava a terra. Agora vai para as plantinhas, para a banana, para outras frutas.”

A mudança, para ele, é concreta e transformadora. Ele lembra que, apesar de sempre notar que a grama ficava mais verde onde a água passava, nunca tinha conseguido estruturar um sistema que resolvesse o problema. “Não tínhamos experiência. Agora nós colocamos em prática”, disse, confiante de que muitos dos presentes farão o mesmo em casa.

Durante a atividade, Denise de Miranda, coordenadora do projeto e servidora da Agraer, esclareceu que a oficina faz parte da chamada pública mais recente da Fundect, voltada ao apoio às agroindústrias de leite da agricultura familiar na região do Pantanal. “Percebemos que muitos produtores de queijo e iogurte não conseguem se regularizar sanitariamente”, explicou. O projeto mapeou as dificuldades e propôs ações que ajudassem as agroindústrias a avançar em sua formalização junto aos serviços de inspeção, permitindo sua inclusão sanitária.

Com o olhar atento de quem vive a realidade das agroindústrias familiares, Denise reforçou que soluções como o círculo de bananeiras ajudam a resolver partes essenciais do saneamento, reduzindo impactos ambientais e fortalecendo boas práticas de higiene e manejo da água dentro das unidades.

Mesmo quem já separava água cinza da água negra descobriu novos usos e possibilidades.

Entre os participantes, Sebastião Acosta dos Santos resumiu bem o impacto: “Foi novidade pra mim. A gente desperdiça muita água, e num lugar onde ela falta tanto”, relatou. Ele já planeja implantar o sistema em casa para irrigar plantas, bananeiras e o jardim que há tempos desejam estabelecer no assentamento.

Há também um ganho estético e emocional nessa transformação. Sebastião acredita que a nova relação com a água dará “outra cara” à propriedade e fortalecerá a sensação de pertencimento no assentamento. Para ele, cada adaptação que aprendeu naquele dia é uma peça importante para melhorar a qualidade de vida das famílias.

Vânia Sabatel, coordenadora da Agraer em Corumbá, reforçou a satisfação em ver a mobilização dar resultados. Foi ela quem articulou a participação dos agricultores, especialmente aqueles ligados às agroindústrias acompanhadas pelo escritório local. Seu objetivo é claro: fortalecer a consciência ambiental e incentivar práticas simples que reduzem o impacto no cotidiano rural.

Foi justamente essa proximidade entre teoria e prática que levou o grupo a dar um passo além: instalar também um sistema para aproveitar a água da pia da cozinha da família anfitriã. A decisão, tomada ali mesmo, em meio ao trabalho, mostrou o quanto os participantes compreenderam que pequenas mudanças podem gerar resultados imediatos.


Refletir sobre o destino da água tornou-se um exercício coletivo. Ao final da tarde, muitos começaram a imaginar como adaptar o que viram à realidade das próprias casas. A clareza chegou não por meio de slides ou discursos, mas pela experiência concreta de construir algo útil com as próprias mãos.

Também houve espaço para pensar no futuro. Para José Dilse, o círculo de bananeiras não é só uma solução técnica, mas um compromisso com as gerações que virão. “Se cada um fizer um pouquinho, já ajuda bastante”, disse. Ele vê o sistema como forma de garantir que a água seja tratada com o respeito que merece em uma região onde sua falta é sentida.

Próximos passos já começaram a ser planejados pelos agricultores que participaram da oficina. Muitos querem replicar o modelo, adaptá-lo, ampliá-lo ou combiná-lo com outras tecnologias. A ideia de que saneamento ecológico é inacessível foi substituída pela percepção de que qualquer família pode começar de forma simples.


Bastou o círculo de bananeiras ser concluído para que todos entendessem que aquele trabalho não terminava ali. Era, na verdade, o início de um processo de mudança cultural – uma mudança que nasce de soluções acessíveis, da força da comunidade e da essência da agricultura familiar: produzir e viver em sintonia com o ambiente que sustenta cada família.

Na agroindústria da família, o trabalho também flui em sintonia. Ali, Maria Romilda e José Dilse dividem a rotina com o filho Israel Alves Vieira, em um arranjo que otimiza tempo, espaço e equipamentos: enquanto ele se dedica à produção de iogurte, ela se concentra nos queijos. A dinâmica, além de garantir melhor uso da estrutura, permite que cada um tenha dias alternados de descanso, mostrando que a organização familiar pode ser tão estratégica quanto qualquer tecnologia — e igualmente essencial para o bem-estar e a continuidade do empreendimento.

 

Texto e fotos: Ricardo Campos Jr., Agraer

 

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