Campo Grande (MS) – Se no pasto uma vaca, em período de entre safra, está magrinha a ponto de não ter uma produção regular de leite, cabe ao zootecnista indicar o melhor complemento alimentar. Em uma pequena propriedade de piscicultura, o descarte correto da água utilizada nos tanques também é outra atribuição dele. E se o leitão está a apresentar um organismo com mais gordura ao invés de mais músculo, também cabe a esse profissional orientar o produtor.
No Brasil, a profissão é considerada ainda jovem, por ter sido regulamentada no ano em 1966. Tanto que nesta sexta-feira (13 de maio), os zootecnistas da área, em especial os da Agraer, comemoram o seu jubileu de ouro, 50 anos de existência da profissão.
Seja no cuidado do gado (pecuária de corte ou de leite), porcos (suinocultura), galinhas (avicultura), ovelhas (ovinocultura), cavalos (equinocultura), peixes (piscicultura) ou abelhas (apicultura), o zootecnista atua no planejamento e execução de projetos capazes de promover e aumentar a produção animal e de alimentos, respeitando, simultaneamente, o meio ambiente, o bem estar animal, as condições socioeconômicas da população envolvida e a satisfação do consumidor final.
Atribuições essas que repercutem diretamente no bolso do produtor rural e na saúde dos consumidores sejam de produtos de origem animal oriundos de uma grande, média ou pequena propriedade. Pensando nesse cenário, o que dizer da responsabilidade social do zootecnista diante da agricultura familiar que corresponde, nada mais e nada menos, do que 70% dos alimentos que chegam a toda a população brasileira?
“Se em uma fazenda a produção reflete nos ganhos de um grande produtor, imagine então o que os valores não representam para um agricultor familiar? O leite que gera o queijo, a galinha que produz os ovos, o suíno que gera a carne e assim por diante. Para a agricultura familiar o zootecnista e o serviço de Ater [Assistência Técnica e Extensão Rural] tem extrema importância, pois o pequeno produtor muitas vezes não tem como custear o trabalho desse profissional. É nesse sentido o papel da Agraer prestar atendimento àqueles que precisam e buscam produzir”, argumenta o zootecnista com 25 anos de formação, Roberto Nakayama.
Com funções muitas vezes confundidas com a do médico veterinário, o zootecnista e coordenador regional da Agraer de Três Lagoas, José Américo Boscaine, esclarece que apesar das semelhanças, as tarefas dentro no campo são um tanto distintas.
“Basicamente, o zootecnista atua no melhoramento genético, a fim de aumentar a produtividade e nutrição, escolhendo quais alimentos devem integrar a dieta dos animais. Enquanto cabe ao veterinário os procedimentos médicos com os animais, tratando problemas de saúde, fazendo cirurgias, medicando, entre outros ações clínicas. Eu mesmo optei pela zootecnia por não me familiarizar com as cirurgias, sempre gostei mais da parte nutricional”, afirma.
Trabalhos esses que sem a existência de entidades públicas de assistência técnica, como a Agraer, seriam inviáveis na visão do zootecnista Nakayama. “Pensando que o zootecnista teria custos com deslocamento até a propriedade e a responsabilidade de cuidar do manejo sanitário, alimentação, observar as planilhas com custo de produção, inventário de rebanho, controle de vacinação, por exemplo, o custo seria de meio salário mínimo mensal ao agricultor familiar. Pensando que estamos falando de um pequeno produtor o valor é significativo no orçamento”, avalia.
“O zootecnista tem um papel social seja para um produtor tradicional ou assentado, pois cabe a ele ajudar o pequeno produtor produzir com qualidade no menor tempo disponível. Isso em dados representa mais qualidade na mesa dos consumidores e mais geração de renda as famílias agrícolas e ao estado”, afirma Boscaine.
Formado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, José Américo Boscaine, atua dentro da Agraer principalmente na área da piscicultura em Três Lagoas e região. “Fiz faculdade fora porque na época não havia o curso em Mato Grosso do Sul. Sou o 27º zootecnista registrado no Conselho Regional de Medicina Veterinária e pelo meu tempo de dedicação na área de piscicultura, posso dizer que o setor ainda tem muito que crescer tanto para nós como para os piscicultores”, conta.
A previsão é de três frigoríficos de peixe sejam inaugurados na Região do Bolsão. De olho nesse nicho, a Agraer já esteve na pessoa de Boscaine presente em diversos eventos para disseminar o conhecimento na área de cultivo de alevinos. “Já estive na Rota do Desenvolvimento em Nova Andradina e Três Lagoas e há 16 anos atuo com palestras desde Corumbá, Coxim, Mundo Novo passando por Cassilândia e região. Acredito que a chegada dessas empresas é uma janela que se abre, sem contar que a região noroeste do Estado está próxima de um grande polo de consumo, São Paulo. Há um pólo promissor para os pequenos produtores que queira se aventurar e para os zootecnistas que se interessem pela área”, avalia.
“Trabalhar com peixe não é simplesmente colocar um peixe dentro de um tanque d’água. Há um trabalho para classificação do peixe e, inclusive, de cuidado de descarte da água, pois a mesma não pode voltar suja. Um tratamento é feito antes para que haja a devolução ao meio ambiente. Em tudo é feito um preparo”, lembra.
E quando o assunto é preparo a zootecnia só mostra o quanto é necessário um profissional gabaritado. “Pela Agraer estou no programa da Chamada Pública do Leite, do governo Federal, e em uma semana percorro dez municípios para visitar as chácaras que são referências em produção de leite, com a missão de assessorar as atividades. Nesses locais também promovemos cursos e visitas com outros produtores para que as boas práticas de lá sejam replicadas em outras propriedades”, diz Roberto Nakayama.
Ivinhema, Deodápolis, Glória de Dourados, Novo Horizonte do Sul, Jateí, Vicentina, Fátima do Sul, Dourados, Caarapó e Juti são os municípios onde estão localizadas as chácaras visitadas por Nakayama. Com uma rotina tão agitada quanto ao do colega, Boscaine além das funções de zootecnista também divide seu tempo como a de coordenador regional de Três Lagoas, tendo a missão de supervisionar as ações dos escritórios da Agraer de Água Clara, Brasilândia, Cassilândia, Inocência, Paranaíba, Santa Rita do Pardo, Selvíria e Três Lagoas.
“Costumo dizer que a zootecnia é um sacerdócio. Você tem desafios todo dia, mas você sempre terá espaço se procurar se destacar através de especializações e com um bom trabalho começa a ser assediado para novas oportunidades. Desde que me formei na Faculdade Zootecnia de Uberaba, Fazu de Minas Gerais, nunca estive desempregado. Já tive escritório próprio, trabalhei em cargos públicos como Chefe de Vigilância, em Caarapó, secretário municipal agrícola de Coronel Sapucaia e secretário de desenvolvimento econômico de Caarapó”, conta Nakayama.
Dia do Zootecnista – No dia 13 de maio de 1966 deu-se a aula inaugural do primeiro curso superior de Zootecnia instalado no Brasil, daí remonta a data comemorativa do dia do zootecnista. Há 40 anos, através da Lei 5550 de 04 de dezembro de 1968, a atuação deste profissional foi regulamentada.
Aline Lira – Assessoria de Comunicação Agraer