Enquanto na Europa é mais explorado como alimento, o mel no Brasil é mais conhecido e utilizado por suas propriedades medicinais. Porém, o produto das abelhas, sejam elas africanizadas ou nativas sem ferrão, é tão versátil quanto se pensa, podendo virar desde vinagre até bebidas alcoólicas.
Nicanor Ramos sabe todas essas receitas e não tem receio de passá-las adiante. Aliás, ele chegou até a montar um curso online para ensinar aquela que ele considera a mais nobre de todas: o hidromel.
A bebida alcoólica consiste basicamente na mistura de água e mel fermentada pela ação de leveduras. Obviamente na prática o processo é mais complexo, porém bastante semelhante àquele que transforma a uva em vinho, porém é mais simples e pode ser feito em casa, desde que para consumo próprio.
Isso porque o selo que autoriza a produção em escala comercial depende da autorização do Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento). Isso faz com que o hidromel ainda não seja uma alternativa interessante para agregar valor a um dos principais produtos da agricultura familiar pelo alto custo envolvido.
“Eu entrei em contato com cervejarias que já têm o selo de inspeção e ofereci uma sociedade. Daria uma parte da produção que eu faria. Eles recusaram e pediram a receita para fazer a bebida deles”, lembra.
Ainda assim, Nicanor espera que futuramente o processo se torne mais acessível aos pequenos produtores. Até lá, ele segue apreciando e oferecendo o néctar apenas para as visitas.
“O hidromel é uma bebida do tempo dos vikings. Na Europa, quem sabia a receita não passava. Ninguém queria ensinar. Um holandês chamado Arno veio para Campo Grande e deu um curso há 13 anos. Foi meu grande mestre. Saí de lá e já comecei a fazer”, conta.
Tamanha é a paixão pela hidromelaria que Nicanor, advogado de formação, fez uma pós-graduação em que estudou características dessa e também de licor, aguardente e vinagre a base de mel. Estas três últimas ele faz em menor quantidade.
Sobre o futuro, Nicanor afirma que somente uma das filhas demonstra interesse em seguir com a apicultura e, quem sabe, trabalhar para que o hidromel possa ser vendido comercialmente no futuro. A sucessão, porém, ainda é incerta e o produtor afirma que vai deixar como herança as receitas.
Conhecimento
O doutor em zootecnia e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Rodrigo Zaluski também é conhecido pela produção do próprio hidromel.
“Eu adaptei um espaço em um quarto onde eu climatizei e coloquei os tonéis de fermentação, que são aquelas bombas azuis de polipropileno, específicas para isso. Compro mel de empresas e apicultores do estado, mas as bebidas são para consumo próprio”, afirma.
Assim como Nicanor, ele também entrou em contato com cervejarias para fomentar parceria na hidromelaria, mas o assunto não avançou.
“O próprio hidromel não é uma bebida barata. Tem um custo envolvido com a matéria prima, já que a qualidade é importante. Tem que ser um mel maduro sem qualquer tipo de alteração”, afirma.
Texto e fotos: Ricardo Campos Jr. – Comunicação da Agraer