Campo Grande (MS) – A Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) do assentamento Itamarati promoveu, na última semana, 8 de junho, uma audiência pública com o tema “Deriva de Pulverização de Agrotóxicos” junto ao poder legislativo municipal, Câmara de Vereadores. O encontro foi realizado dentro das dependências da comunidade agrícola com a participação ativa de pequenos produtores no debate.
Os fatores que afetam e os impactos gerados na ocorrência de “deriva” de agrotóxicos foi um dos principais assuntos aportados. Entende-se por deriva toda a aplicação de defensivo agrícola que não atinge o local, ou seja, quando o defensivo é desviado para fora da área do cultivo e por ventura atinge áreas que não deveriam.
“Isso ocorre devido ao carregamento das gotas, escorrimento, evaporação e outros processos. Há três tipos de deriva, a endoderiva, que é a perda do produto dentro da própria lavoura, a exoderiva, que a perda do produto fora dos domínios da lavoura, portanto a qual tem prejudicado os produtores do Assentamento Itamarati com prejuízos em seus produtos e a volatilização, perda de gotas devido às condições climáticas desfavoráveis”, explicou o engenheiro agrônomo da Agraer, Edson Mondadori.
De acordo com o professor do IFMS – Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, o engenheiro agrônomo Antônio Luiz Viegas Neto, os agrotóxicos são produtos essências para a produção em larga escala. “Estes produtos precisam ser empregados, mas devem ser bem utilizados para que haja bons resultados. Para isso alguns fatores devem ser considerados como a técnica de aplicação, condições climáticas no momento da aplicação, as condições operacionais utilizadas e a composição da calda para não haver problemas”, explicou.
Sem os devidos ajustes no sistema do equipamento de pulverização e aplicação sem condições climáticas favoráveis o risco de deriva é ainda maior. “O diâmetro e peso das gotas são os fatores que mais causam deriva. Quanto mais finas, mais suscetibilidade em elevar deriva. A direção e velocidade do vento também devem ser levadas em consideração assim como a temperatura e umidade relativa do ar”, ponderou Edson Mondadori.
De acordo com os técnicos da Agraer e IFMS, quando se trabalha com a velocidade e direção certa dos ventos é possível ter maior controle da deriva. Já em altas temperaturas, superior a 30 °C, há uma maior dificuldade em razão da diminuição da umidade do ar e, consequentemente, a evaporação das gotas, aumentando as chances do problema.
Situação vivenciada por alguns agricultores familiares do Itamarati. Houve casos em que produtores perdem suas plantações de subsistência e, inclusive, há relatos de famílias que perderam toda sua produção e precisaram ir embora da região. “O trabalhador vem lutando para produzir o alimento de cada dia, mas, infelizmente, às vezes, encontra esses problemas na pulverização de agrotóxico”, disse o engenheiro agrônomo da Agraer.
Para Mondadori esse é um problema que vem chamando a atenção das entidades prestadoras de assistência técnica na região. “A deriva é um problema seríssimo que afeta as famílias. Os jovens desanimam quando os pais perdem as lavouras de quiabo, cenoura, entre outras, e acabam indo embora do Assentamento Itamarati. Casos que tornam a situação um problema social e preocupante que deve ser resolvido”.
O engenheiro agrônomo da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal), Carlos Eduardo Cardozo, apontou questões pertinentes a Legislação de Práticas de Pulverização, em especial quanto ao uso consciente e ao manuseio correto dos agrotóxicos. “Grande parte das coisas que podem dar erradas na agricultura está relacionada ao uso incorreto de agrotóxico. Neste contexto, a Iagro desenvolve o trabalho de fiscalizar o comércio e o uso de agrotóxicos, a prestação de serviços. O mau uso pode prejudicar toda a sociedade, por conta disso a Iagro representa o interesse da população para que haja o uso consciente. Existem penalidades quando é cometido algum tipo de infração, seguindo a Legislação Federal e Estadual. A população também pode fazer denúncias”, garantiu.
De acordo com o escritório local da Agraer do assentamento Itamarati, existem vários perigos ligados ao uso destes produtos químicos. Contudo, até hoje não foi desenvolvido agricultura orgânica para produzir em grande escala. As pragas existentes atacam de maneira muito agressiva a produção, caso o produtor não utilize os agrotóxicos, o que faz com que perca toda sua plantação.
Para findar com esses transtornos é necessário que os agricultores sigam corretamente as técnicas e Legislação. “Sabemos o grande potencial de produção que o assentamento Itamarati possui. Porém, com o mau uso dos agrotóxicos, além do problema da deriva afetar drasticamente o cultivo dos agricultores familiares, existe o problema com a contaminação do meio ambiente, afetando plantas e animais e causando problemas de saúde, como foi apontado na audiência pública. A Câmara Municipal trabalhará sempre em busca de melhorias e soluções para as famílias agrícolas. A comunidade do Itamarati pode contar com o nosso apoio”, disse o presidente da Câmara Otaviano Cardoso.