Projeto piloto de melhoramento genético de abelhas mostra quadro de cria operculada de uma rainha de genética selecionada. Foto: Divulgação
A relação das abelhas com práticas no campo sempre teve um caráter complementar, com benefícios para todos os envolvidos. Atualmente, são conhecidas mais de 20 mil espécies. “Elas buscam alimentos em flores e, em uma única viagem, visitam dezenas delas, de uma mesma espécie, viabilizando sua fertilização. Este comportamento – a polinização – é de alta importância agrícola, pois as abelhas são responsáveis por 33% da produção da agricultura em todo o mundo”, defende a bióloga Kátia Eloiza Heep, sócia-proprietária da empresa Genética Apícola e coordenadora de um projeto piloto de melhoramento genético de abelhas no Estado de Santa Catarina.
Para aprimorar a geração destes insetos melhorados e, consequentemente, a produtividade da apicultura, foi implantado um projeto piloto no Brasil, com foco no melhoramento genético de rainhas, princesas e rainhas fecundadas. A iniciativa é resultado de um convênio entre Sebrae-SC (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc), Associação dos Apicultores de Santa Catarina, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri-SC), empresa Genética Apícola e iniciativa privada.
Este projeto piloto, que integra o Projeto de Desenvolvimento Territorial (DET) no Estado, tem como base os municípios de Passos Maia e Água Doce. O trabalho será desenvolvido por meio do SEBRAEtec e incluirá cursos, palestras e consultorias realizadas em apiários. O trabalho atenderá a apicultores dos municípios catarinenses de Jardinópolis, Marema, Pinhalzinho, Quilombo, União do Oeste e Xanxerê. Ao todo, 60 famílias de apicultores serão beneficiadas pelo DET.
POLINIZAÇÃO
A bióloga Kátia Eloiza Heep explica que a dependência de polinização por abelhas é variável: “A maçã, por exemplo, é altamente dependente e a canola pode elevar sua produtividade em até 70%. Entretanto, o declínio das populações de abelhas tem alarmado especialistas em várias regiões do mundo. As causas mais evidentes deste fenômeno são os desmatamentos e o uso de pesticidas. É fundamental, portanto, o estabelecimento de práticas agrícolas amigáveis às abelhas”.
Ao ser questionada sobre a prática em si do projeto, a bióloga destaca, primeiramente, que “o termo melhoramento genético pode assustar as pessoas à primeira vista”. “Muitos imaginam que só é possível fazer melhoramento genético em laboratórios equipados. Existem centenas de exemplos bem sucedidos nas civilizações mais antigas do mundo, que já faziam melhoramento genético de plantas e animais. Na verdade, até hoje usamos métodos muito parecidos com aqueles usados há séculos. A ideia básica do melhoramento genético é muito simples: eliminar os piores indivíduos e substituir pelos melhores.”
MELHORAMENTO GENÉTICO
Segundo a especialista, a seleção de matrizes das abelhas é realizada por meio de alguns testes, como: comportamento higiênico, que é uma característica influenciada pelo efeito genético materno da rainha e também é um mecanismo natural de resistência às doenças pela remoção da cria morta, doente ou danificada do favo; controle e contagem do ácaro Varroa (ectoparasita), que deve ser periódico, com tratamentos orgânicos e permitidos na produção de mel; posteriormente, são selecionadas as matrizes com baixa infestação de Varroa e alta produtividade como rainhas matrizes.
Na hora de selecionar as matrizes, Kátia explica que “a escolha da colônia, que será doadora de larvas, deve ser feita com base na seleção de uma ou mais características desejadas pelo apicultor, tais como produtividade, agressividade ou resistência a doenças”.
MÉTODO DOLITTLE
Para a produção de rainhas, ela informa que existem vários tipos ou métodos. “O método Doolittle (que será usado no projeto de melhoramento genético em SC) é um dos mais avançados, porque permite a produção de rainhas em grande escala, utilizado pela maioria dos criadores de rainhas atuais. Sua principal vantagem é permitir saber, com maior precisão, a idade da larva, pois é o próprio apicultor que faz sua transferência para a cúpula”.
A partir daí, explica ela, “ajusta-se a uma produção sistemática de rainhas, em que todas as operações sejam planeadas em cada momento”. “Para fazer a transferência, utiliza-se uma ‘pinça chinesa’, cuja função é retirar e transportar a larva do seu alvéolo para a cúpula, juntamente com a porção de geleia real que a envolve. Nesta etapa, deve ser evitado todo e qualquer contato direto com a larva transferida ou sua exposição prolongada a temperaturas abaixo de 20ºC e com pouca umidade relativa, porque isto pode promover a desidratação da pequena larva.”
APICULTURA NO PAÍS
A bióloga defende que a apicultura é muito importante para a agricultura em todo o mundo: “As abelhas são fundamentais no serviço da polinização cruzada, o que constitui uma importante adaptação evolutiva das plantas, aumentando o vigor das espécies, possibilitando novas combinações de fatores hereditários e aumentando a produção de frutos e sementes, que são responsáveis por fecundar 73% dos vegetais da nossa flora”.
A maior eficiência das abelhas como polinizadoras, de acordo com Kátia, ocorre tanto por seu número na natureza quanto por sua melhor adaptação às complexas estruturas florais como, por exemplo, peças bucais e corpos adaptados para embeber o néctar das flores e coletar pólen, respectivamente.
“O mel é um produto elaborado pelas abelhas, a partir do néctar coletado nas flores. Basicamente, ele é constituído de água, frutose, glicose, sacarose, maltose, e outros dissacarídios, além de sais minerais, vitaminas, enzimas, hormônios, proteínas, ácidos, aminoácidos e fermento. O mel é um dos poucos alimentos de ação antibactericida e de fácil digestão, podendo ser utilizado como alimento tanto na colmeia quanto para o ser humano.”
De modo geral, para a bióloga, a apicultura é uma das atividades capazes de causar impactos positivos, tanto sociais quanto econômicos, além de contribuir para a manutenção e preservação dos ecossistemas existentes.
“A cadeia produtiva da apicultura propicia a geração de inúmeros postos de trabalho, empregos e fluxo de renda, principalmente no ambiente da agricultura familiar, sendo, desta forma, determinante na melhoria da qualidade de vida e fixação do homem no meio rural.”
Segundo Kátia, “o Brasil apresenta características especiais de flora e clima que, aliado à presença da abelha africanizada, lhe confere um potencial fabuloso para a atividade apícola, ainda pouco explorado”.
O PROJETO
Coordenador da Regional Oeste do Sebrae-SC, Enio Albérto Parmeggiani destaca que o Projeto de Desenvolvimento Econômico e Territorial pretende dinamizar a economia local, oferecendo atendimento aos empreendedores formais e informais, com o intuito de contribuir com o aproveitamento das potencialidades dos municípios, levando o desenvolvimento econômico e a transformação da realidade dos apicultores atendidos pelo DET.
De acordo com ele, “implementado em vários municípios da área de abrangência da Coordenadoria Regional Oeste do Sebrae-SC, responsável pelo atendimento a 54 municípios, o projeto beneficia empreendedores individuais, empresas de pequeno porte, microempresas, potenciais empreendedores, empresários e produtores rurais”.
“A implementação das ações do DET é realizada de acordo com as demandas e potencialidades de desenvolvimento de cada município. E a apicultura é uma das potencialidades, que pode ser explorada em algumas regiões. O projeto piloto de melhoramento genético de rainhas, princesas e rainhas fecundadas é uma das ações que fazem parte do DET”, reforça Parmeggiani.
Para mais informações sobre o DET e o projeto piloto no País de melhoramento genético de abelhas, entre em contato com a Coordenadoria Regional Oeste do Sebrae-SC pelo telefone 49 3330 2800.
Por equipe SNA/RJ