O assunto é delicado, mas é preciso falar a respeito. Nem mesmo as crianças estão livres da depressão. A doença que sempre pareceu um mal exclusivo dos adultos afeta cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo. Desse modo a depressão infantil é um assunto que deve ser tratado com sensibilidade e seriedade.
Independente de faixa etária, classe socioeconômica, sexo, ou outros aspectos sociodemográficos, a depressão pode ser leve, moderada ou grave, sendo que nesta última há atitudes suicidas. Para se ter uma ideia em 2019 Mato Grosso do Sul registrou 437 tentativas de suicídio de crianças de até 14 anos. O número representa 13% do total de tentativas ocorridas no Estado, conforme dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).
Diagnosticar a depressão em crianças é mais difícil, pois os sintomas podem ser confundidos com malcriação, pirraça ou birra, mau humor, tristeza e agressividade. O que diferencia a depressão das tristezas do dia-a-dia é a intensidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança.
Artigo recente publicado pelo professor de medicina na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e PhD em saúde mental, José Carlos Souza e o acadêmico de medicina Bruno Makimoto Monteiro, destaca que a depressão na infância é uma doença orgânica com variáveis biopsicossociais e até mesmo herança genética de pais ou parentes depressivos.
A doença também pode ser atribuída a situações traumáticas como: separação dos pais, maus tratos, abuso sexual, moral ou emocional, baixa autoestima, abandono infantil, mudança de colégio, morte de uma pessoa querida ou animal de estimação.
O estudo indica que os sinais mais comuns da depressão infantil, estão na dor de cabeça e abdominal, fadiga, tontura, dificuldade de concentração, ansiedade, fobias, irritabilidade, perda de apetite e sono, perda de peso, fazer as necessidades na roupa, tristeza, isolamento social, agressividade, desinteresse pela escola e brincadeiras, pesadelos e terrores noturnos, ideias e planos suicidas, automutilações, entre outros.
Os cuidadores devem estar atentos ao comportamento das crianças e adolescentes. Segundo o PhD em saúde mental, na prática médica diária, percebe-se que o atraso na procura do tratamento ocorre em virtude do sentimento de culpa dos pais ou responsáveis em relação à depressão na criança. Este fato fica mais evidente quando os cuidadores negligenciam as atitudes parassuicidas, que são atos que levam ao risco de morte, mas não há uma clara intenção de se matar, a exemplo da automutilação e a prática de desafios de jogos como a Baleia Azul.
Mas o assunto precisa deixar de ser tratado como tabu, e a prevenção deve ocorrer o ano todo e não apenas durante o “Setembro Amarelo”, avalia José Carlos, que através da pesquisa quer alertar familiares e amigos de que as crianças não só podem ter ideia da dimensão e gravidade de um ato suicida, como também são capazes de se automutilarem e tomarem medidas que visem à interrupção de sua existência.
Conversar abertamente com as crianças sobre o enfrentamento de situações adversas da vida como angústias e frustrações, é uma forma de prevenir e também de identificar previamente os sintomas e buscar ajuda profissional.
Mireli Obando, Subcom – com informações UEMS
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