Campo Grande (MS) – Uma planta que pode combater a desnutrição pelo mundo e, ainda, purificar a água sendo uma ótima fonte alimentar tanto na dieta animal como na humana, e uma interessante solução para problemas hídricos em áreas sem acesso a água potável. O que parece apenas um sonho ou mera propaganda é, na verdade, algo bem dentro da realidade. O vegetal é a moringa e suas potencialidades foram apresentadas pela Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), dentro do eixo Tecnologias a Campo, na terceira edição da Tecnofam – Tecnologias e Conhecimentos para Agricultura Familiar, no município de Dourados.
O trabalho foi abordado pelo engenheiro agrônomo e coordenador regional da Agraer de Dourados, Flávio Ferreira. “Da moringa você consegue aproveitar praticamente tudo. Folhas, flores, vagens verdes e sementes são altamente ricas em nutrientes”, disse.
Quando a planta é jovem e tem cerca de 30 centímetros, as raízes possuem uma reserva nutricional sendo aptas ao consumo. Entretanto, passado esse período, a raiz já não é indicada ao uso alimentar. E, da semente da moringa é possível extrair um óleo que pode ser usado para diversas finalidades.
A planta é originária da Ásia e África e cresce em áreas semiáridas tropicais e subtropicais sendo que uma de suas características é o desenvolvimento precoce. É um vegetal que cresce muito rápido e que pode chegar de 5 a 12 metros de altura. Suas folhas são altamente nutritivas, com um sabor um tanto picante que muitas pessoas comparam ao sabor do agrião. O consumo das folhas pode ser cru em saladas ou cozidas.
O valor nutricional depende muito da forma como o vegetal é preparado. “Estudos apontam que a moringa possui sete vezes mais vitamina C que a laranja, quatro vezes mais vitamina A que a cenoura, duas vezes mais proteína que o iogurte, quatro vezes mais cálcio que o leite de vaca, três vezes mais ferro que o espinafre e três vezes mais potássio que a banana”, elencou o engenheiro agrônomo.
Dentro da gastronomia, as folhas da moringa são muito apreciadas na Indonésia e no Timor Leste. Um prato é feito com suas flores fritas e imersas em leite de coco. A iguaria se chama makansufa e pode ser acompanha por arroz e milho. Nos países asiáticos, as flores são comumente usadas em saladas e muito utilizadas em chás contra resfriados.
Tantas propriedades deu a moringa o título de “árvore milagrosa”. Na África e nas Filipinas, por exemplo, muitas famílias contam com uma árvore de moringa em seus quintais para uso doméstico. Em muitas regiões devido às condições socioeconômicas dos habitantes, as plantas garantem ao menos o mínimo necessário de elementos nutricionais para as pessoas, especialmente, as crianças.
Entretanto, ter o conhecimento sobre a manipulação desse tipo de vegetal é essencial para que não se tenha nenhum problema de intoxicação alimentar conforme foi destacado durante a Tecnofam.
Cortadas, trituradas e armazenadas adequadamente, no inverno, as moringas podem ser servidas no cocho por oferecer cerca de 30% de proteína ao rebanho. “Dentro da agricultura familiar a moringa pode ser uma ótima opção para a alimentação animal, pois ela oferece proteína de excelente qualidade e minerais para os animais”, informou Flávio.
E se tudo isso já não fosse o suficiente, a moringa pode decantar a água separando as impurezas e tornando o líquido apto ao consumo. “Três sementes purificam cerca de um litro de água. De preferência que as sementes sejam colhidas e, em seguida, colocadas no recipiente em que será feito tratamento da água”, observou o engenheiro agrônomo da Agraer.
O tempo mínimo para decantação da água é de 90 minutos. Nesse período as impurezas irão se acumular no fundo do recipiente e a água deve ser filtrada o quanto antes. Coar com um pano é muito importante para que o material orgânico não inicie uma decomposição dentro da água.
Segundo o Instituto Trata Brasil, 6 milhões seis milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada. Uma boa alternativa para melhorar a qualidade da água disponível nessas áreas seria através do uso da moringa. Atualmente a planta é conhecida no estado do Maranhão e vem sido difundida no sertão nordestino.
A planta se adapta bem em regiões quentes e muito secas. A moringa traz a esperança de uma água limpa e uma fonte alimentar para esses locais que sofrem tanto com as condições climáticas e de solo. Outro fator que reforça o seu título de “árvore milagrosa”.
A unidade demonstrativa da Agraer, nas dependências da Embrapa Agropecuária Oeste, é um experimento que vem observar não apenas o desenvolvimento da planta como suas diversas utilidades dentro da agricultura familiar.
Na região do Pantanal, a Embrapa também desenvolveu um estudo dentro do sistema agroflorestal para observar o crescimento da planta como sua eficiência no trato animal – alimentação.
Evento – De caráter bienal, a Tecnofam foi realizada esta semana, de 17 a 19 de abril, pela Embrapa em parceria com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Agraer, Semagro e Fundo para o Desenvolvimento das Culturas de Milho e Soja (Fundems). O evento ainda conta com outras instituições públicas e privadas ligadas ao setor produtivo.
Texto: Aline Lira – Assessoria de Comunicação da Agraer
Fotos: Embrapa