Campo Grande (MS) – A proibição do plantio de soja no período 90 dias, adotado em Mato Grosso do Sul, outros 11 estados e Distrito Federal, é o conhecido vazio sanitário. A medida é essencial no combate à ferrugem asiática, um dos principais problemas da sojicultora no País. Para prevenir, controlar e auxiliar na erradicação da doença – que é provocada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi – durante o vazio sanitário, os produtores, além de não cultivarem o grão, devem eliminar a planta voluntária conhecida também como tiguera (plantas originárias dos grãos caídos no solo durante a colheita).
A estratégia tem como objetivo reduzir o inoculo do fungo durante a entressafra por meio da ausência do hospedeiro, atrasando o surgimento das primeiras ocorrências de ferrugem na safra, diminuindo a possibilidade de ocorrência da doença no período vegetativo e, consequentemente, podendo reduzir o número de aplicações de fungicidas.
O presidente da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso do Sul (APROSUL), Carmélio Romano Roos, avaliou durante o lançamento da campanha Plantando com Responsabilidade se Colhe com Qualidade, realizada pelo Governo do Estado, que a medida é prática indispensável e que sua importância já está devidamente assimilada pelos produtores do Estado.
“Não só a busca pela preservação dos produtos que ainda apresentam eficiência, mas a ausência de registro de novas moléculas para os próximos 10 anos foram motivadores dessa decisão e a discussão deve ecoar inclusive junto ao Ministério da Agricultura já que a preocupação é de todos os Estados produtores da leguminosa”, declarou Roos.
Ao participar do lançamento da campanha, Carmélio comentou ainda sobre a recente decisão da agência de defesa do Estado do Paraná que restringiu o comércio de 66 agrotóxicos disponíveis no mercado para o combate da ferrugem asiática da soja, que apresentaram eficiência abaixo da média.
Doença
Considerada uma das doenças mais severas que incidem na soja, a ferrugem asiática pode ocorrer em qualquer estádio fenológico da cultura. O principal dano ocasionado pela ferrugem é a desfolha precoce, que impede a completa formação dos grãos, com consequente redução da produtividade. Os primeiros sintomas da ferrugem se iniciam pelo terço inferior da planta e aparecem como minúsculas pontuações (no máximo 01 mm de diâmetro) mais escuras que o tecido sadio da folha, com coloração esverdeada a cinza-esverdeada.
A confirmação da ferrugem é feita pela constatação, no verso da folha de saliências semelhantes a pequenas feridas ou bolhas, que correspondem às estruturas de reprodução do fungo (urédias). Essa observação é facilitada com a utilização de uma lupa de 20 a 30 aumentos, ou sob um microscópio estereoscópico. Com o passar do tempo, as folhas infectadas pelo fungo tornam-se amarelas e caem.
Manejo
O monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da soja é muito importante para que o produtor possa iniciar o controle químico com fungicidas logo após o aparecimento dos primeiros sintomas ou preventivamente. O controle preventivo deve levar em conta os fatores necessários à ocorrência da ferrugem (presença do fungo na região, idade da planta e condição climática favorável), a logística de aplicação (disponibilidade de equipamentos e tamanho da propriedade), a presença de outras doenças e o custo do controle.
Dentro do manejo de doenças, é importante que se faça a rotação de fungicidas, alterando o princípio ativo aplicado a cada pulverização. Desta forma consegue-se preservar a eficiência por um número maior de safras, reduzindo o surgimento de resistência do fungo às moléculas e garantindo um manejo químico mais efetivo. Esta prática deve ser adotada por todos os produtores de soja para a manutenção do manejo sustentável da ferrugem da soja, com menor impacto financeiro e ambiental.
A decisão do momento da aplicação do fungicida é técnica e passa pela avaliação das condições climáticas, da presença do fungo na região, além de outros fatores. A escolha do produto tem relação com a forma de aplicação e o tamanho da lavoura. Por isso, é interessante que o produtor procure se informar junto a órgãos e entidades que compõem o Consórcio Antiferrugem.
Texto: Kelly Ventorim, Assessora de comunicação da Iagro e Sepaf, com informações da Embrapa.