Aquidauana (MS) – De hortaliças a orquídeas, stand da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) cai na graça do público da 49ª edição da Expoaqui – Exposição Agropecuária de Aquidauana pela diversidade de cores, aromas e sabores. Das 11 agroindústrias familiares, expositoras, em pelo menos metade era possível degustar algum tipo de produto.
Diferentemente, do ano passado em que a Agência ocupou apenas um espaço de 100m², este ano a área foi ampliada em 490m² e mais do que ganho em proporção, o estande chamou a atenção pelas inovações no mercado e o senso de empreendedorismo de homens e mulheres que viram na agricultura familiar um caminho para a melhoria de vida.
Como é o caso da artesã Ancelma Vitorino da Silva que tira o sustento de sua família do reaproveitamento de madeiras. “Tudo começou com meu pai que era pedreiro e pintor e certa vez passou em frente a uma marcenaria. Encantado com o trabalho do proprietário do local, ele foi convidado a aprender a mexer com a madeira. Eu tinha uns 7 anos naquela época e desde então minha família não saiu mais disso”, conta a mulher.
Três décadas passadas, o ofício da família agregou também a mão-de-obra do esposo, irmão, três filhos e três vizinhos de Ancelma. “As crianças não trabalham, trabalham, porque as máquinas são pesadas. Para elas é um trabalho perigoso. Mas, na época das férias, eles limpam a oficina. Não deixamos mexer com as máquinas”.
No espaço dedicado aos artesanatos da família, Ancelma mostra com orgulho as peças que dão o sustento à família. Colheres de pau, tábua de carne, gamela, travessa e petisqueiras são alguns dos artigos comercializados. De R$ 6,00 a R$ 260,00 é possível que o visitante encontre alguma peça que agrade o seu gosto e, principalmente, o bolso. “Tudo é madeira reaproveitada. Há um respeito com o meio ambiente. De doações de empresas a fazendeiros que tiveram alguma árvore caída pelo mau tempo, usamos apenas madeiras que estão sem uso”, informa.
Com os seus trabalhos, a artesã já rodou várias partes do País. “Rio de Janeiro, Brasília, Recife são algumas das cidades que conheci através de feiras e os produtos tem boa aceitação. Às vezes conseguimos vender tudo. A renda da minha família vem só do artesanato. Com esse trabalho é possível tirar uma renda de até R$ 2 mil por pessoa”, garante.
E o roteiro de trabalho da artesã não se limitará a 49ª Expoaqui. Até o final do ano, outras exposições já estão agendadas. “Estou muito grata a Agraer pelo espaço oferecido, porque é uma oportunidade de divulgar o nosso trabalho. Saindo daqui já temos compromisso em São Paulo em setembro, Belo Horizonte em outubro e vamos ao Distrito Federal em novembro”, diz Ancelma.
Veteranos em Expoaqui, pai e filho Andrelino e Anderson dos Santos, respectivamente, se dizem satisfeitos com o segundo convite feito pela Agraer. “A Agraer conhece o nosso trabalho, recebemos as visitas técnicas da Agraer para o manejo com os nossos coqueiros. Já tivemos algumas orientações até mesmo no combate as pragas”, conta o jovem agricultor Anderson.
Residentes no Distrito de Camisão, a família dedica 4 hectares para o cultivo de coco anão. “O nome da fruta se dá porque é uma qualidade que desenvolve muito rápido. Com um manejo adequado em três anos um coqueiro já produz. O tempo útil de produção de cada planta é de até 60 anos e com irrigação é possível colher o fruto o ano todo”, afirma.
Tanta produtividade garantiu freguesia na região litorânea do Brasil. É que o coco cultivado na região pantaneira tem conquistado o mercado catarinense. “A região Sul não produz coco, creio que pelas condições do clima. Assim como tem coisas lá que aqui nãose produz, aqui produzimos coisas que lá não tem. A maior parte de nossa produção vai para Santa Catarina. O restante a gente comercializa pelo Distrito e em Aquidauana mesmo”, explica Anderson.
E se já não bastasse o empreendedorismo da família, a criatividade também é outro ponto forte de Andrelino e Anderson. Na barraca, a tradicional faca para cortar o fruto é substituída por uma furadeira. Um trabalho sem muita sujeira e sofrimento. “De inicio achei engraçado, mas depois vi que é um trabalho inteligente. O atendimento é mais rápido e não faz sujeira”, avalia a estudante Thaís Lima, enquanto saboreava a água gelada do fruto.
Por R$ 3,00 é possível os visitantes conferirem a qualidade do fruto. Para os mais audaciosos é possível levar a muda de coqueiro por R$ 20,00. “Vendemos dentro da cidade o fruto maduro também. Da muda a castanha do coco tudo é aproveitado”, diz Anderson.
E as opções do estande não se limitam as frutas in natura. Em outro ponto é possível comprar pães feitos da biomassa de banana verde. “É um trabalho que não deve ter nem um ano ainda. Começou com o pão e, hoje, temos até biscoitos. Como é feito a partir da fruta verde o sabor dos produtos não são alterados”, revela a expositora e operadora de caixa da Panificadora, Bruna Drewis.
De acordo com estudos clínicos, a biomassa é aliada a saúde por prevenir o diabetes, ajuda no funcionamento intestinal por ser rico em fibras, auxilia no tratamento da depressão e, ainda, é ótimo aliado estético, por contribuir no controle de peso.
Muito além dos shows, leilões de bovinos e barraquinhas de bebidas e comidas, a 49ª Expoaqui trouxe luz à agricultura familiar através da parceria governo do Estado e Sindicato Rural de Aquidauana. “Houve um engajamento de toda a equipe de servidores da Agraer de Aquidauana e Anastácio junto aos profissionais da sede em Campo Grande. Fora as alianças que são sempre importantes”, afirma o dirigente da Agraer, Enelvo Felini.
Cachaça de alambique, licores artesanais, geleias, pães, queijos, banana chips, orquídeas, mel do Pantanal (produzido pela Alespana), bovinocultura de leite, picolés, frutos do cerrado in natura, apicultura (meliponia – abelhas sem ferrões), piscicultura e a aeroponia, sistema de hidroponia, onde as plantas são cultivadas suspensas no ar, tendo como sustentação canos de PVC são alguns dos muitos assuntos expostos aos visitantes.
A otimização de espaço também é outro ponto alto do estande. No local, tudo pode se transformar em fonte de renda para os agricultores familiares. As mesmas cadeiras que servem de descanso para servidores, agricultores e visitantes, são também peças expostas para negociações. Artigos rústicos fabricados pelos artesãos do assentamento Monjolinho, 55 quilômetros da área urbana de Aquidauana.
As belezas naturais de Aquidauana e região também tiveram espaço garantido através dos quiosques da Fundação de Turismo do Estado e do Município. Estudantes e professores da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) também marcaram presença com exposição de plantas e animais (besouros, borboletas e até curiosos bichos aquáticos como o carangueijo). A Sepaf (Secretaria de Estado de Produção e Agricultura Familiar) e Iagro também foram outras duas importantes instituições que compõem o estande. A 49ª Expoaqui é realizada de 11 a 15 de agosto.
Texto: Aline Lira
Fotos: Dunga