Campo Grande (MS) – Para estimular agricultores familiares e aproximar adultos e crianças da região urbana aos costumes do campo, a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) montou uma estrutura ao lado do seu estande para distribuição gratuita de mudas de plantas frutíferas (abacate, morango, mamão), hortaliças, eucalipto e até da erva-mate, espécie conhecida pelos sul-mato-grossenses nas forma de uma tradicional bebida gelada, tereré, nas rodas de fim de semana.
Em sacos, copinhos plásticos ou tubetes, as plantas foram cuidadosamente armazenadas para a distribuição. Muitas das mudas são frutos de doações de produtores atendidos pela Agraer, empresas parceiras como a EucaFlora e de trabalhos de pesquisa, como é o caso das mudas de guavira cultivadas dentro da Cepaer (Centro de Capacitação e Pesquisa da Agraer).
Etiquetadas e expostas nas prateleiras, às mudas despertam o interesse das crianças. Algumas como o pequeno Adoir Rocha Júnior, de 4 anos, já até sabem o destino certo dos “embriões” verdes. “Vou plantar para comer. Lá em casa a gente só compra do mercado”, diz a criança.
Acompanhado pela avó, Moema Inês Rocha, e do amiguinho de escola, Henrique, também, de 4 anos, Adonir conta a muda que escolheu. “É uma alface. Ela tá pequenina, mas vai crescer. É só cuidar”, diz garoto com a esperteza de quem vê a vó lidar com a terra.
“Moro no assentamento Jiboia e, em casa, a gente está montando a horta. Também estou levando a muda de erva-mate”, conta a avó do garoto.
Outro que fez questão de levar erva-mate para o seu sítio é o casal Marilene e René Vieira. “Tomo muito tereré e chimarrão e, em Laguna Caarapã, eu que fazia a tostagem da erva para o meu tereré. Eu tirava da planta e fazia o preparo. Agora, quero ver se posso ter em casa”, afirma o produtor.
Resgate das raízes: passado e presente
Se, no passado, Mato Grosso do Sul fez história e riqueza através da Cia de Mate Laranjeiras e, hoje, a erva tostada e pronta para o consumo, é uma velha amiga nas rodas de conversa do fim de semana.
Em sua forma in natura, a planta se torna um tanto desconhecida em meio a tantas outras folhagens sobre a bancada da Agraer na Exposição de Sidrolândia. “Conheço o tereré, chimarrão e mate. Mas a planta assim eu não conhecia. Gosto de coisas diferentes e vou plantar na chácara”, diz Ângela Maria Costa.
Para uma boa distribuição e conhecimento a Agraer montou uma planilha os dados das pessoais que está pegando uma muda de erva-mate. A entidade tem interesse de estimular o plantio da espécie dentro do Estado.
Por conta disso propôs uma parceria junto a Eucaflora, instituição que doou duas mil espécies para ser distribuída dentro da Expo Sidrolândia. “Foi uma ideia da diretoria da Agraer que veio falar com a gente e aceitamos. Queremos ter outras ações em conjunto”, explicou o empresário Sérgio Casaril.
Com dois viveiros no Brasil, um em Sidrolândia (MS) e outro em Chapecó (SC), a Eucaflora comercializa muda para agricultores familiares e segmentos interessados no processamento da erva-mate. “De dois a três anos a planta já começa a produzir, ou seja, a bifurcar com galhos mais finos para a extração. A preparação da erva é a partir dos galhos finos. Uma planta para produção deve atingir 1,30 m com a prática da poda. A partir daí ela pode chegar a mais 1,5 m que dará as folhas para retirada”, pontua.
Uma árvore nativa pode chegar até 15 metros de altura, contudo a falta de poda pode prejudicar o trabalho desejado. “Deixa-la crescer livremente dificulta a poda e todo o processo. Sidrolândia, Amambai, Ponta Porã, a região de Chapecó (SC) e o estado de Paraná são locais onde temos pessoas com interesse nas mudas”, diz Casaril.
A poda da planta e o manejo do solo são práticas que viabilizam boa safra. “Em um hectare é possível colher até dez toneladas. Tudo depende do modo de cultivo e qualidade da muda”, justifica o empresário. “As mudas só são viáveis pelas sementes ou clones. Mas ainda não se tem clones. Porém, estamos trabalhando para desenvolver essa tecnologia e, acredito que daqui cinco anos já teremos”, revela.