Campo Grande (MS) – Amados por uns e odiados por outros, o alho é um tipo de condimento muito utilizado em lares e restaurantes brasileiros que optam pelos sabores naturais aos temperos prontos que nem sempre são recomendáveis a nossa saúde, devido a alta concentração de sódio.
Desde os primórdios da humanidade o alho já aparece em nossa história como remédio sendo usado no Antigo Egito, valorizado na Idade Média pelas suas propriedades medicinais (coração e circulação sanguínea) e, posteriormente, presente em cenários inóspitos como a Primeira Guerra Mundial em que o alho foi amplamente utilizado em curativos para prevenir infecções.
E os benefícios desse vegetal não se restringem apenas ao consumo. Antes mesmo de ir à panela ou chegar ao nosso organismo, o alho prova que tem vantagens também no cultivo. Isso porque na agricultura familiar ele tem demonstrado viável para o cultivo. “Não ocupa muita terra e tem rentabilidade de preço. Não é tão trabalhoso, é um produto que todo mundo usa e se caso o preço de mercado não estiver bom é possível armazenar por até seis meses, bem diferente do que acontece com as hortaliças”, afirmou o produtor Aparecido de Souza que se enveredou nessa cultura há pouco tempo.
Com assistência técnica da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) e a viabilização das sementes pelo Cepaer – Centro de Pesquisa e Capacitação que também é vinculada a instituição que presta os serviços de Ater – Assistência Técnica e Extensão Rural. “Os pesquisadores da Agraer conhecem o caminho e os fornecedores das sementes e o escritório da Agraer daqui da cidade me ajudou nesse contato. Eles encomendaram e o custo ficou por minha conta”, diz Aparecido que também é conhecido como Cidão no assentamento Santa Olga, no município de Nova Andradina.
Em um sítio de 7 hectares, Aparecido separou 600m² para montar os canteiros e se diz satisfeito com os resultados. “Já vendi uns 22 quilos de alho e tenho mais encomenda. Então, tudo o que tenho já está comprometido. A mão de obra é nossa, minha, da minha esposa [Marta Pereira] e filha [Edilaine Pereira]. Não demanda muita gente para a lida no campo e parte do serviço é feito com a patrulha mecanizada da associação. Patrulha que inclusive foi dada pela Agraer”, conta o produtor que se diz satisfeito com o apoio recebido. “Tudo o que precisei me atenderam. O Sandro, o Rodrigo e até a Shirley estão sempre atendo bem. Não tenho do que reclamar”.
Este já é o segundo município que a Agraer tem proposto parceria para o cultivo de alho. Recentemente, o agricultor Marzeli Kerpel, o senhor Neco, encarou o desafio de cultivar alho a convite do engenheiro agrônomo da Agraer, João Alfredo Neto da Silva.
Em Nova Andradina, a assistência técnica e a patrulha mecanizada estão se demonstrado de grande valia para o agricultor Aparecido. “Com a patrulha o serviço que eu levaria semanas para fazer no braço eu faço tudo em meia hora. E o próprio alho é fácil de lidar. Para o preparo da terra eu coloquei cana de frango, que é o esterco que eu compro dos aviários, a palha de arroz e o calcário para corrigir a acidez do solo”, detalha.
Além do solo, o produtor também tem de se preocupar com a irrigação e o tempo de plantio. Coisas que ele tira de letra pela experiência rural que possui. “O alho não é o ano inteiro. A colheita é uma vez no ano e ele demora cerca de seis meses para estar pronto. A gente plantou em março, final do verão, e agora entre a primavera a gente começou a colher. É um alimento que precisa de temperatura baixa para desenvolver”, explica.
Quanto à razão de ter escolhido o alho para trazer o sabor que faltava na renda da família, é possível definir apenas em uma palavra: empreendedorismo. Uma qualidade que Aparecido traz em seu trabalho e que não é de hoje. “Aqui não se tem o cultivo até onde sei e, no passado, já fiz isso antes de começar algo novo. Anos atrás tive a ideia de vender cheiro verde, salsinha e cebolinha para os mercados locais. Cheguei a fazer 1.500 e até 2 mil maços para vender em um só mercado. Fazia um bom dinheiro. Porém, outros vizinhos entrou no negócio e já não movimentou tanto. Gosto de inovar e buscar outras coisas”, afirma.
E nesse caminho de pioneirismo e aprendizagem, Aparecido demonstra vontade de trabalhar e sabedoria. Enquanto aprende com o cultivo do alho, ele complementa a renda com outras atividades. “Vendo frango caipira, também temos leite na propriedade, estamos com 50 mil pés de abacaxi para serem colhidos e plantamos alface, cenoura, beterraba e cheiro verde”, quantifica.
Para o próximo ano a meta é expandir os negócios com o alho. “Fiz dois canteiros este ano e quero preparar 15 para o próximo. Se Deus quiser chegar de 800 a 1 mil quilos colhidos. Estou contente com o resultado e posso vender o alho em feiras, mercado e até incluir no Pnae, que é o programa que permite a venda de alimentos da agricultura familiar para a merenda escolar”, diz o agricultor.
Um programa que ele avalia com bons olhos. “Pela merenda a gente consegue comercializar os produtos fora da cidade dependendo do tipo de alimento. Cada agricultor tem o direito de vender em um ano o valor de R$ 20 mil para o município, R$ 20 mil para o Estado e R$ 8 mil pelo Programa de Aquisição de Alimentos, PAA. Aqui, vendo para hospitais pelo PAA”.
Outra satisfação de Aparecido é a qualidade dos produtos que ele pode oferecer a sua clientela. “O alho que produzo está sendo orgânico. Não uso nada de produtos em cima dele. Ainda não tive uma grande renda, mas também não tive grandes despesas e todo mundo sai ganhando. A ideia é vender o alho também para as cidades vizinhas como Batayporã”, revela o produtor que tem essa característica forte de planejamento em seu trabalho.
Texto: Aline Lira/ Fotos: Agraer – Assessoria de Comunicação da Agraer