O programa de crédito Mais Alimentos, voltado ao financiamento de maquinários agrícolas para agricultores familiares a juros mais baixos que os praticados no mercado, passará a financiar também equipamentos para produção de energia solar e eólica (produzida com o vento) para esse mesmo público.
As condições de crédito envolvem as mesmas taxas de juros, de 2% a 5,5% ao ano, que já valem para o programa, e o mesmo limite de financiamento por produtor, que varia de R$ 10 mil a R$ 50 mil por safra agrícola. Uma novidade é o prazo para pagamento de 10 anos, superior aos sete anos em média praticados pelo Mais Alimentos.
“O interessante é que a indústria de equipamentos eólicos e solares se comprometeu a vender seus produtos a um preço de 15% a 10% mais barato para a agricultura familiar, ao produtor que tomar crédito pelo Mais Alimentos”, disse ao Valor o diretor do Mais Alimentos no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Lucas Ramalho.
A respeito do potencial de inserção desses equipamentos na agricultura familiar, Ramalho cita uma pesquisa feita pelo ministério que mostra que a região com maior taxa de incidência solar na Alemanha, um dos países que mais investe em energia solar, por exemplo, é quatro vezes menor que a região do Brasil com menor incidência solar – oeste de Santa Catarina. “Isso nos dá um indicativo das oportunidades que os pequenos agricultores podem ter ao se tornarem também produtores desses tipos de energia”, acrescenta.
Os ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, e Eduardo Braga, de Minas e Energia, e os presidentes das entidades que representam as indústrias de geração eólica (Abeeolica) e solar (Absolar) assinaram, na quarta-feira (25), acordo de cooperação técnica permitindo essa nova modalidade de financiamentos.
Pelo nível de utilização de energia nos vários ramos do agronegócio verificados recentemente, o MDA acredita que esses equipamentos de geração de energia por meio do sol e dos ventos devem ser mais demandados pela suinocultura e avicultura, principalmente na região Sul do país. Ramalho lembra porém que o Nordeste é agraciado por grande movimentação de ventos que também pode atrair agricultores de pequeno porte para esses financiamentos.
Essa nova opção para os produtores também amplia a lista das opções de financiamento contidas no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que ofertou um total de R$ 28,9 bilhões em crédito subsidiado para todo o período da Safra 2015/16, iniciada em julho deste ano e que se encerra em junho de 2016.
Já o Mais Alimentos se enquadra na categoria do Pronaf voltada para investimento em propriedades rurais, que corresponde na prática à compra de tratores e colheitadeiras, por exemplo, equipamentos, porém, que já vêm sofrendo uma queda no ritmo de financiamentos por conta tanto dos juros quanto dos custos de produção mais altos no atual ciclo agrícola.
Segundo dados do Sistema de Crédito Rural do Banco Central, o desembolso de crédito a agricultores familiares nas linhas de investimento já diminui cerca de 30% de julho a outubro, em relação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, o governo ofertou R$ 14,6 bilhões para as linhas de investimento do Pronaf.
Melhor para o meio ambiente e para o agricultor
Em Ibiracatu, no norte de Minas Gerais, a energia solar já é usada para potencializar a irrigação das hortaliças da propriedade do seu José Carlos Ferreira Mendes, mais conhecido como Zé Baixinho. Para aperfeiçoar a utilização das cisternas de captação de água, o produtor adquiriu um sistema de energia solar.
“Nossa vida melhorou muito. A placa é colocada em cima da cisterna e tem uma bomba que tira a água da caixa e manda para as hortaliças. O Norte de Minas tem muito sol, é ideal para utilização de placas solares porque é uma economia a mais. Antes a conta de luz vinha R$ 150 e, agora, com a placa solar, não pago nada. Com esse dinheiro posso investir nas hortaliças ou em um veículo pra ajudar a comercializar meus produtos. E ainda tem a preservação do meio ambiente que é essencial para a vida no campo”, comemora Zé Baixinho.
Mais Alimentos
O Mais Alimentos é uma linha de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que financia investimentos em infraestrutura produtiva para a agricultura familiar, como a aquisição de máquinas, equipamentos e implementos agrícolas. O programa fornece crédito a juros de 2% a 5,5% ao ano, com até três anos de carência e prazos de até dez anos para pagar. A iniciativa financia projetos individuais de até R$ 300 mil e coletivos de até R$ 750 mil.
Com informações do Valor Econômico e do Ministério do Desenvolvimento Agrário