Campo Grande (MS) – A Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) em parceria com outras instituições voltadas ao meio produtivo promoveu, nos dias 28 e 29 de outubro, em Dourados dois cursos sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). O conteúdo de ambos foi ministrado pelo professor doutor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM-CMZL), Valdely Ferreira Knupp, que também é autor de livro com mesmo nome do curso, publicado pelo Instituto Plantarum.
De acordo com estudiosos da Agraer, as PANCs são plantas que facilmente encontramos no meio ambiente e que a maioria das pessoas não conhece e por isso deixa de se beneficiar de suas propriedades alimentares. “Algumas são consideradas matos ou pragas, ou seja, plantas que crescem espontaneamente os nossos quintais e em lavouras, que são consideradas daninhas e retiradas em qualquer utilização. Também podemos considerar algumas plantas comuns como PANCs, como a bananeira em que restringimos o consumo de apenas uma parte, o fruto maduro. As demais partes são desprezadas como mangarás, também, conhecidos como corações ou umbigos”, explicou Denise Miranda, membro do Núcleo de Agroecologia da Agraer.
O evento foi promovido pela Agraer em parceria com Faculdade de Ciências Agrárias (UFGD), através da professora Drª Maria do Carmo e da Faculdade de Engenharia Alimentos (FEIN), na pessoa da professora Drª Eliana, Núcleo de Agroecologia, Ensino, Pesquisa e saberes tradicionais de Mato Grosso do Sul e Caritas.
O primeiro dia de curso foi realizado nas dependências da UFGD e a programação foi de palestra expositiva sobre variedades de plantas PANCs e alguns conceitos implícitos no uso dessas plantas para alimentação, seguidos de uma prática na cozinha da incubadora para preparação dos alimentos, almoço e identificação de espécimes ao longo de uma caminhada pelo campus da universidade e uma visita ao Horto da UFGD. O público foi de aproximadamente 30 pessoas, principalmente alunos e professores da UFGD e extensionistas da Agraer.
O segundo dia de curso foi realizado nas dependências da Igreja Santo André, com apoio além dos anteriores já citados, da Caritas e a programação foi de uma plaesra expositiva, uma observação da diversidade de PANCs coletadas na região que foi seguida pela preparação de diversos pratos com PANCs disponíveis. As preparações realizadas foram servidas no almoço. Esse curso foi aberto ao público de forma geral contou com a participação de aproximadamente 50 pessoas.
O cardápio do almoço foi bem diversificado e dentre os pratos esteve: os patês de Ora-pro-nóbis (cactáceas), de moringa, pulmonária ou “peixinho” e assa de peixe fritos, salada de medula de mamão ralado, salada de folha de seriguela com flor de capuchinha e pitaia, almeirão roxo com flor de capuchinha, refogado de palmito pupunha com Buva, macarrão feito de ora-pro-nóbis com molho de taioba, sucos de folhas de seriguela e de butiá, etc. A sobremesa foi doce de medula de mamoeiro ralado.
“O macarrão feito com ora-pro-nóbis em sua massa foi elaborado por uma equipe da FEIN – Faculdade de Engenharia Alimentos, liderados pela professora Eliana que fez macarrão de cor verde e deliciosamente macio”, informou Denise.
O maior objetivo do consumo das PANCs é promover uma diversificação da alimentação, evitando uma alimentação “monótona” e tornando as pessoas mais conscientes sobre possibilidades de consumo e na relação direta entre consumo e desenvolvimento.
No curso foi reforçada a ideia de que a “ampliação de opções nos hábitos alimentares na verdade, constituem-se numa decisão política”, pois ao escolher o que compramos para comer estamos incentivando os fornecedores de quem compramos. “Os ministrantes dos cursos criticara o ‘imperialismo gastronômico alimentar’, onde grandes corporações controlam a oferta de poucos produtos deixando os consumidores reféns de poucas opções. Dessa forma, tende-se a seguir uma alimentação com poucas variações”, lembrou a servidora da Agraer e participante do evento.
“A incorporação das PANCs possibilita o consumo de plantas disponíveis em terrenos ou em nossas casas que acabam reduzindo o gasto e também promovendo maior integração com o ambiente em que vivemos. Um dos exemplos citados é o uso de urtigas em saladas ou refogados que é muito comum, na Itália, e é uma planta muito comum, no Brasil, apesar de pouco utilizada na alimentação”, afirmou Denise Miranda.
Durante o evento também foi mencionada a importância de pensarmos num paisagismo produtivo, onde se incorpora plantas que além de um efeito ornamental produzam frutos, folhas, castanhas, por exemplo, que posam produzir alimentos para as pessoas e animais onde estão plantadas.
A seguir algumas das PANCs e as utilidades que foram apresentadas no dois cursos:
Buva – conhecida por ser resistente aos herbicidas de soja e tida como praga, a Buva possui sabor levemente azedo e picante que pode ser usada em molhos e temperos.
Jenipapo – ao aquecer solta coloração azul que pode enfeitar e diferenciar os pratos.
Coquinho de Buitia – vem de uma palmeira e seu coquinho possui grande parte carnosa, que é delicioso para produzir geleias e sucos.
Palma forrageira – que depois de retirada da película externa protetora pode ser fatiado e servido como aperitivo, também com sabor azedo e refrescante.
Flor de Pitaia – utilizada em saladas ou refogada