Campo Grande –“No inverno, a produção cai pela falta de chuva”, “viver da produção de leite em MS é um desafio”. Não é raro ouvir frases desse tipo por parte de pequenos produtores em todo o País quando o assunto é pecuária de leite. Atentos a essa questão, a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) uniu forças com a Embrapa para produzir um ciclo de palestra, na 12ª edição da Dinapec, a ponto de desmitificar tais afirmativas e mostrar que com tecnologias baratas é possível produzir muito em pouco espaço.
Com conhecimento de mercado e conscientes as necessidades dos animais é possível dar condições necessárias para que o homem do campo não seja um mero tirador de leite, mas, sim, um produtor de leite.
Logo, as oito palestras promovidas, na Dinapec, frisam que para o sucesso da porteira para fora é preciso ter em mente que, da porteira para dentro, para que a vaca possa desempenhar suas funções vitais, produtivas e reprodutivas, antes, é preciso que seja fornecido de nutrientes em quantidade e qualidade compatíveis com: seu peso corporal, estado fisiológico, nível de produção e fatores ambientais aos quais está exposta.
Da oferta de alimentos aos cuidados no pasto para evitar o estresse dos animais. Em uma área de 2.400 m², tudo foi preparado para bem receber os agricultores familiares que atuam no setor lácteo, de modo a tirar às dúvidas e com a possibilidade, inclusive, de levar para casa algumas mudas de carpineiras (BRS Capiaçu e BRS Kurumi) que agregarão valor a nutrição alimentar das vacas de leite.
Cultivares
As novas variedades, Capiaçu e Kurumi, são destaques entre as cultivares de capim-elefante. “A Embrapa fez uma parceria com a Agraer para que as duas sejam distribuídas aos pequenos produtores de leite. No interior do Estado, os produtores interessados devem conversar com um técnico da Agraer, ir até um escritório, e solicitar as mudas”, informou o pesquisador da Embrapa José Kruker.
A cultivar de capim-elefante anão BRS Kurumi, voltada para o pastoreio direto, se caracteriza por apresentar alto potencial de produção de forragem com excelentes características nutricionais, o que possibilita ao produtor de leite intensificar a produção animal com menor uso de concentrado. “Já é o terceiro ano que venho a Dinapec e o que me chamou a atenção desta vez foi o capim Kurumi. Da outra vez, eu levei uma muda do Anapié-roxo daqui mesmo. Agora, quero ver se consigo uma mudinha desse outro capim”, disse a produtora Antônia Souza, do assentamento Melodia, município de Ribas do Rio Pardo.
Já, a BRS Capiaçu possui porte alto, que pode ultrapassar os cinco metros de altura, com alta produção de biomassa e destinada à silagem e picada no cocho. Ambas podem ser utilizadas no período da seca.
Eficiência Produtiva
Quanto maior a produção de leite, maior a demanda energética e proteica. Independente das estações do ano, a alimentação dos animais devem ser uma constante e no caso do período de entressafra, inverno, quando a chuva diminui é quando o pasto e o cocho necessitam de uma redobrada atenção. “O produtor tem que saber gerir o negócio [pasto e rebanho] dele ou ele quebra. E toda esta estrutura foi montada para mostrarmos os caminhos possíveis de uma boa gestão em uma pequena propriedade”, disse o médico veterinário da Agraer, Arnaldo Santiago Filho.
Plantio consorciado de capineiras e culturas para silagem (sorgo e milho), cultivo de cana-de-açúcar, piquetes, e reflexos do manejo do rebanho na qualidade do leite tudo foi apresentado para que nem as mudanças climáticas ou orçamento da pequena propriedade sejam fatores limitadores nos cuidados com as vacas o que, consequentemente, refletem na produção de leite e nos rendimentos com o mesmo.
No caso de estresse do animal, o zootecnista da Sepaf, Orlando Camy, enfatizou a necessidade de cuidar da higiene do animal e de manter uma situação de conforto no pasto. “Em um ambiente favorável o animal vai trazer mais retorno produtivo e isso reflete também na mesa do consumidor. É a garantia de que se está consumindo um leite de qualidade, porque os animais não estão sendo explorados ou agredidos”.
Um dos pontos que o produtor deve ter cuidado, por exemplo, é a questão do estresse térmico, ou seja, evitar que o animal fique exposto ao sol com sensação térmica que eleve a temperatura corporal e o consumo de água do animal.
“Quando o animal fica muito no sol, o organismo dele eleva mais o sangue para perto do couro, a fim de equilibrar sua temperatura. Desta forma, este mesmo organismo não vai ter como prioridade a produção de leite. Sem contar que isso pode acarretar problemas de saúde como desidratação, por exemplo, disse Camy que ainda reforçou, “uma vaca com potencial de 20 ou 30 litros pode cair para 5 litros, caso ela esteja em um ambiente inapropriado. Isso também determinará o ganho mensal”.
“Essa questão da sombra eu até sabia, mas não com todos os detalhes. Ninguém gosta de ficar no sol né. É sempre bom vir pra cá, porque a gente sempre aprende alguma coisa. Em Ribas do Rio Pardo, eu tenho o técnico Júnior [Agraer] que me ajuda com assistência técnica. É um reforço [palestra] de muita coisa que a gente conversa no sítio”, disse o produtor José Aparecido dos Santos.
O ciclo de palestra com o tema central “Produção Sustentável do Leite” atraiu mais de 400 agricultores familiares, além de estudantes e profissionais que também visitaram o espaço. Um trabalho de mobilização por parte da Agraer, órgão do governo de Mato Grosso do Sul. “Geralmente, nos sítios, a gente produz leite para o consumo próprio e venda nos laticínios. Com o que sobra também é possível fazer queijo para vender. E os cursos são bons para gente tirar dúvidas e saber se o que está fazendo lá [propriedade] é certo ou não”, disse a produtora Antônia Souza.
Ao todo, foram oferecidas oito palestras, são elas: Alternativas, reforma ou renovação de pastagens (Cláudio Lazarotto – Embrapa, e Nino Rodrigo – Agraer); Como alimentar adequadamente o rebanho, inclusive na seca. (Mauro Kruker – Embrapa e Vitor Côrrea – Agraer); Pastejo rotacionado. Antonino Hipólyto e José Carlos Gasperonni – Agraer); Muitos serão excluídos da produção de leite. E você? (Francisco Marcondes – Agraer); Brucelose e a tuberculose, controle e transmissão. (Daniela Cazola – Iagro); Cuidados na produção de derivados do leite e sobre o SISBI. (Marcos Camargo – Iagro); Reflexos do Rebanho na produção e qualidade do leite. (Orlando Camy Filho – Sepaf); Vacinação dos animais com ênfase em febre aftosa. (Camyla Fonseca e Fernando Endrigo – Iagro).
Texto: Aline Lira/ Fotos: Néia Maceno