No último mês a Agraer de Aquidauana aceitou o desafio: Produzir Alface de qualidade em região quente com o mínimo de perdas.
Desafio que vem sendo enfrentado por horticultores da agricultura familiar local que insistem e ousam cultivar alface sob o Sol escaldante da região e com pouco resultado positivo.
Já foram somados muitos prejuízos, investimento empregado na cultura da alface que não traz lucro ao produtor rural, ora pela baixíssima produção, havendo até mesmo necessidade de juntar 06 pés de alfaces para corresponder 01 viável à venda, ou pelo simples fato de não “vingar” o pé de alface nos canteiros. E os motivos são vários elencados pelos próprios produtores:
1) Pendoamento precoce;
2) Morte das mudinhas recém transplantadas;
3) Morte por secamento das folhas;
4) Ataque severo de pragas.
Nessa época, o consolo vem dos cultivos alternativos no chão, como abóbora, quiabo, cebolinha, entre outros que põe o pão na mesa do agricultor nos dias quentes do verão aquidauanense.
A HIDROPONIA IMPERA!
Sorte dos cultivadores das “plantas aquáticas” sob estufas. A alface cresce bonita, brilhosa e verdejante. Os preços explodem guiados pela lei da oferta e procura.
FELIZMENTE TODO ANO O OUTONO E INVERNO VOLTAM!
Volta também o entusiasmo dos agricultores familiares convencionais, esbanjando confiança e alcançando recordes em produtividade de alface no chão.
Em contrapartida, vem com força também aventureiros de fundo de quintal, vasos, terreno baldio desovando alface a torto e direito na cidade, por preço que não paga nem a intenção de produzir a alface.
De fato, um recorde em produção, fazendo com que o preço do pé da alface seja vendido pela bagatela de até R$ 0,50.
Para o Eng. Agrônomo da Agraer de Aquidauana César Bulhões Martins, esse preço é o que define o horticultor que avança na atividade, daqueles que somente se aventuram.
“O horticultor familiar tem que entender a necessidade de fidelizar seu cliente, produzir alface e outras folhosas durante todo o ano, entregando qualidade a partir de um escalonamento de produção, com serviço focado na verdadeira necessidade do seu cliente”.
É o que já vem ocorrendo entre alguns horticultores mais especializados e que recebem visitas técnicas semanais da Agraer, os quais vendem seus produtos direto da horta por preços bem mais vantajosos durante todo o ano.
“Enquanto estão vendendo alface durante o inverno por R$ 0,50, aqui o preço não baixa de R$ 2,50”, diz a horticultora Antônia Amélia.
Mas ela acrescenta, “infelizmente, parece que o calor vem aumentando e na última safra de verão não conseguimos produzir alface de qualidade”.
Atento a esse fato, a Agraer de Aquidauana montou um experimento em campo abordando variáveis importantes e que podem fazer toda a diferença entre produzir ou não alface na primavera e verão de Aquidauana.
O EXPERIMENTO
Baseado nos 04 motivos elencados pelos horticultores, foi montado o experimento em 03 canteiros com os seguintes tratamentos:
1) Canteiro sob sombrite e sem sombrite;
2) Canteiro com uso de palhada e solo nú;
3) Canteiro com calagem, adubação orgânica de plantio e cobertura e canteiro testemunha sem adubação alguma;
4) Canteiro em consórcio com feijão e alface;
5) Espaçamentos diferentes de plantio (25 x 25 cm) e (40 x 40 cm);
6) Variedades de alface americana e crespa.
MOTIVO 01: PENDOAMENTO PRECOCE
Para reduzir as perdas nesse sentido, foram adquiridas sementes melhoradas com resistência ao pendoamento precoce.
Resultado: planta mais uniforme, com início do pendoamento após 30 dias, o que não afetou a qualidade do produto pois já estava pronta para colheita, diz Bulhões.
MOTIVO 02: MORTE DAS MUDAS RECÉM TRANSPLANTADAS
Nesse sentido, com a suspeita de que as mudas que estão sendo adquiridas pelos produtores já pudessem vir contaminadas de viveiristas, foram produzidas as próprias mudas na propriedade.
Resultado: não houve perdas das mudas recém transplantadas.
Para o agrônomo César Bulhões, o que vinha ocorrendo é a presença de fungos de solo, causador do “Damping off” (Phytium e/ou Rhizoctonia solani), associadas às condições favoráveis (alta temperatura e umidade).
“Na grande maioria dos casos, esse fungo já está presente no solo, é um fungo muito agressivo, que não escolhe suas vítimas, logo, o que deve ser feito são tratos culturais que visam diminuir as melhores condições ao fungo, como rotação de cultura, eliminar restos culturais, irrigação e adubação equilibradas, entre outros”, acrescenta Bulhões.
MOTIVO 03: MORTE POR SECAMENTO DAS FOLHAS
Muito comum na cultura da alface associada a altas temperaturas.
“É o que chamamos de Tip Burn (queima das bordas das folhas), quando a planta de alface sofre estresse hídrico em dias quentes, porque o horticultor errou na irrigação, essa falta de água faz com que o cálcio não se direcione para as pontas das folhas, causando assim, morte dos tecidos foliar e aspecto de queimadura que inviabiliza toda comercialização e consumo da alface”, explica Bulhões.
Resultado: “…no experimento não ocorreu “Tip Burn”, pois a área de irrigação foi contemplada com um tensiômetro que fizemos caseiro e que apresenta grande vantagem na medição de água do solo. A irrigação foi efetuada por micro-aspersão 4 vezes ao dia, 8 h e 11 h da manhã, e 14 h e 16 h da tarde, com 30 minutos de rega cada”, completa o agrônomo.
MOTIVO 04: ATAQUE SEVERO DE PRAGAS
Quando pensamos em pragas na cultura da alface, devemos buscar qual é a praga chave desta cultura, naquela região. Neste caso é o Tripes (Frankliniella schultzei), inseto perigoso pois transmite virose, conhecida como Vira-Cabeça da alface e não tem cura, diz Bulhões.
Resultado: “…montamos armadilha para identificar a primeira chegada das pragas, identificamos então Tripes já em nível de controle (NC), pulgão alado e cigarrinhas, estes em equilíbrio (NE), não havendo necessidade do controle. Portanto, usamos Calda da Primavera, produto natural, com efeito excelente no controle da praga Tripes, logo, não tivemos problema com virose”, enfatiza animado César.
CONCLUSÃO FINAL
Foi possível produzir alface na primavera quente de Aquidauana, com peso e tamanho proporcional à procura dos clientes.
Sombrite e a palhada no solo não representaram acréscimo na produção, porém o espaçamento de 25 x 25 cm foi importante nos resultados, bem como a irrigação equilibrada 04 vezes ao dia.
Para o agrônomo César Bulhões, manter o solo úmido nos primeiros 20 dias é indispensável à boa produção de alface no calor. Após esse dia, comece a reduzir a irrigação para que fungos como Septoriose e Cercospora não contamine as folhas baixeiras da alface. De noite, o solo deve estar quase seco.
Concluiu também que a palhada no solo, além de manter a umidade, previne contra ataque de fungos nas primeiras fases da cultura, pois as folhas não tem contato com o solo e é uma vantagem, apesar de seu uso não ter representado ganhos significativos na produção.
Ainda acrescenta que a produção em peso variou de 198 gramas por pé de alface no tratamento com adubação orgânica, para 43 gramas por pé de alface no tratamento Testemunha. O consórcio com feijão não trouxe ganhos na produtividade.
“Esta é uma diferença incrível de produção, concluo que é totalmente possível produzir alface com qualidade na Primavera e Verão de Aquidauana, bem como outras regiões quentes, e que o produtor deve levar a sério assunto como irrigação, preparo de solo, adubação entre outros e estar atento de forma preventiva para tomadas de decisões que fazem toda a diferença em qualquer cultura”, finaliza Bulhões.
Agradecimentos ao estagiário Natan Afonso C. Gomes, formando em agronomia na UEMS de Aquidauana e parceiro neste experimento.
Para mais informações, ligue para Agraer escritório local de Aquidauana, fone (67) – 3241-3262.
Texto e fotos: César Bulhões Martins – Escritório da Agraer de Aquidauana